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O que é que o caipira tem?

Com sede na Fazenda Santa Vitória, o Arado pretende pesquisar, mapear e disseminar a cultura caipira, típica do centro-sul do país.

por Beta Germano

"Arado" é um instrumento que serve para revolver a terra com o objetivo de descompacta-la e, assim, viabilizar um melhor desenvolvimento das raízes das plantas. É sobre remexer algo que estava esquecido, enterrado, para dar-lhe nova potência e vida. E é sobre isso que o artista plástico Bruno Britto queria falar com o sócio também artista Luís Matuto. O sonho deles é ambicioso e honesto: criar uma enciclopédia da cultura popular do Brasil, além de criar objetos e projetos autorais como os calendários que fazem sucesso absoluto: o primeiro, de 2020, foi baseado na sazonalidade dos vegetais e o atual, de 2021, partiu de uma pesquisa dos peixes que dominam o imaginário ( e mesa) caiçara - à venda online e, em São Paulo, na Chocolate Notebooks. A atenção inicial dos artistas está na cultura caipira do centro-sul do país ou paulistânia - região por onde os paulistas passaram no início da colonização [que correspondente os atuais estados de São Paulo, Minas Gerais, norte do Paraná, Goiás, Mato Grosso, Tocantins] que têm muitos pontos em comum, especialmente na culinária. "Começamos aqui pelo Vale do Paraíba, mas meu sonho é ampliar a pesquisa para o Brasil inteiro, mas para isso precisarei de colaboradores locais", explica Britto.

Além dos calendários, o Arado ficou conhecido por belíssimas ilustrações em projetos gráficos e camisetas e também pelos seus mapas. O primeiro foi feito em 2018 para o restaurante  Tordesilhas, guiado pela chef Mara Salles, para um evento dedicado aos produtos e produtores do Vale do Paraíba, da Serra da Bocaina e da Serra da Mantiqueira. Aí eles não pararam mais de localizar, diagramar e desenhar pérolas de diferentes regiões do país. 

Para 2021 o Arado vai desenhar um mapa dos doces brasileiros, em parceria com a confeiteira Joyce Galvão; um mapa dos queijos brasileiros, com o coletivo Caminho do Queijo Artesanal Paulista. A programação do ano também incluiu o projeto de um livro sobre agrofloresta com a Preta Terra - referência no assunto que, inclusive, acaba de ganhar uma verba do Príncipe Charles para criar e fomentar, por meio do Instituto Europeu de Florestas (EFI), projetos capazes de quebrar dois paradigmas sobre agroflorestas: tornar os sistemas de produção agroflorestais viáveis em larga escala e com retorno financeiro. 

No mês passado o Arado abriu sua sede dentro da Fazenda Santa Vitória, uma preciosidade que fica entre a Serra da Mantiqueira, a Serra da Bocaina e a Serra do Mar, e virou instituto. A ideia?  Além de ser um centro de pesquisa do Arado, com livros-relíquias sobre a cultura popular,  o espaço cuidadosamente montado no meio da fazenda será também uma espécie de reduto cultural onde serão promovidas noites de viola, conversas e sessões de cinema. O artista também sonha em transformar sua casinha em ponto de encontro para festejos locais como o já tradicional concurso de quadrilha de Queluz, cidade vizinha. "Quero criar uma programação educativa e organizar visitas que resgatam memórias afetivas", explica ele mostrando seu pequeno museu de cultura caipira onde os hóspedes da Fazenda Santa Vitória podem conhecer e reconhecer desde objetos presentes na memória de muitos , como uma régua clássica do mapa do Brasil e uma caneca de metal para o cafezinho, até peças mais raras e interessantes para quem é da cidade como um enxó ou a forma de um tijolo, queijo ou manteiga.

O Arado também cuidará da estratégia de marca e posicionamento da Santa Vitória que vale a visita por si só: depois da queda do café, os proprietários da fazenda investiram na extração de leite ( não deixe de provar o iogurte do café da manhã e a granola feita na casa!) e, mais recentemente, sob o comando de Fabia Raquel Ferreira e Luiz Eduardo Tarquínio Monteiro da Costa, é possível hospedar-se na principal sede ou numa casa com vista para o vale e para o Arado! Em março a Santa Vitória irá abrir a própria queijaria e um pequeno empório com as delícias produzidas na região: os embutidos da Curiango Charcutaria Artesanal, a Cachaça Reserva do Nosco, a burrata de búfala Oro Bianco, Bernadete Geleias, entre outros. 

A gastronomia comandada pelo Chef Vitor Rabelo, aliás, é o ponto alto da estadia e Fabia faz questão de organizar refeições em diferentes partes da propriedade para incentivar o visitante a conhecer suas diversas vistas e facetas. No pavilhão do riacho, por exemplo, eles fazem jantares empratados servido em 5 tempos; no rancho da cachoeira o almoço feito no fogão à lenha em uma cozinha aberta, com gastronomia baseada nas receitas regionais; e, na horta, são servidos grelhados e saladas; e, na casa do Arado é possível comer um café da manhã com todas as delícias caipiras - pense em biscoitos, broa, requeijão moreno e café coado. Já não é novidade que o  êxodo urbano aumentou no último ano: o enclausuramento fez com que a turma da cidade grande busque, cada vez mais, o ar puro do campo. Mas é difícil escolher para onde fugir. A Fazenda Santa Vitória, certamente, é uma ótima pedida para fazer conexões muito além dos encontros no zoom. 

Serviço:

fazendasantavitoria.com.br

www.arado.info

Fotos

por Arado, Beta Germano e Bruno Simões

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