Vivemos numa sociedade intoxicada fisicamente, intelectualmente, moralmente e energeticamente, que clama por cura.  

 

Não à toa, cresce a procura tanto por alimentos quanto hábitos mais sustentáveis e com propósito, trazendo o conceito de harmonia como prioridade para muitos e palavras como “Wellness” e “Hygge” (que significam bem-estar e conforto respectivamente) indo parar no topo dos relatórios de tendências dos últimos anos. No entanto, acreditamos  que não basta alimentar o corpo físico, é preciso nutrir também o corpo mental, emocional e social para o verdadeiro "bem viver"  e, para isso, a arte e o design nos parecem essenciais - um ANTÍDOTO.  

 

O primeiro passo para essa cura individual e social está na consciência: a percepção do nosso próprio corpo e das relações e sistemas que se expandem a partir dele.  Por isso, o nosso fio condutor é apontar ações e escolhas que estimulam um melhor convívio em sociedade. 

 

Nos orientamos por filosofias como o "Nunchi", conceito coreano que explora a arte de avaliar o que as pessoas estão pensando e como elas estão se sentindo para criar conexão e confiança; e “Wabi-sabi”, filosofia japonesa que, dentro de um conceito bastante amplo, aborda uma estética centrada na aceitação da transitoriedade e imperfeição. 

 

Reconhecemos o tempo e tudo o que se transforma com ele. Caminhamos contra a ideia de  tendências aceleradas que uniformizam a experiência sensorial e desestimulam o pensamento crítico. Buscamos um antídoto para a falta de sensibilidade e reflexão da cultura contemporânea, queremos investigar para onde estamos caminhando coletivamente.

 

Julgamos, por fim, que a estética anda ao lado da ética e acreditamos na arte e no design como uma forma de evolução - pessoal e social. Os temas e personagens destacados aqui são, portanto, aqueles que despertam o nosso olhar para a reflexão e para estimulantes possibilidades de mudança. Reavaliar nossos hábitos, prioridades e ações nos parece fundamental para esse processo de reabilitação. E, o mais importante, é preciso fomentar o pensamento e questionamento das diretrizes que regem nosso planeta atualmente, pois uma coisa é certa: chegamos a um esgotamento e a necessidade de mudança é cada vez mais urgente. 

 

É importante buscar saídas, encontrar formas de nos fortalecer e cuidar do nosso corpo, do coletivo e do planeta. Estamos aqui para pensarmos juntos! 

 

ADENDO 2021

 

Escrevemos esse manifesto em 2019, mas precisamos olhar para ele e repensar tudo quando nos deparamos com a maior pandemia da história da humanidade, depois da gripe espanhola, para entender os próximos passos.

 

A atmosfera de esgotamento do corpo, da mente, da sociedade e do planeta chegou ao seu limite. E o que era questionamento e desejo de transformação virou realidade, necessidade de mudança  e urgência. Mas esse período de reclusão e reflexão confirmou, também, que alguns ANTÍDOTOS são possíveis. Muitos filósofos, psicólogos, cientistas, artistas, arquitetos e designers desenvolveram teorias de como deveria ser o novo mundo, um novo normal. Quais transformações estão por vir? Quais são necessárias e quais são viáveis?  Ainda não sabemos… talvez deveríamos eliminar, primeiramente, o próprio conceito de “normal”. Mas é certo que dessa busca por uma relação mais harmoniosa com o tempo e espaço, precisa nascer também algo novo.  Pode não ser algo revolucionário como muitos pregam, mas definitivamente passou da hora de pensar em novas formas de estar no planeta. 

 

No último século naturalizou-se um modo de viver que exige alta produtividade, passando por cima da saúde e bem-estar. Sempre atrasadas para algum compromisso ou entrega, as pessoas esquecem de se engajar com o presente, de vivenciar o agora.  No entanto, depois desse período abriu-se uma janela nessa história que,  até ontem, convencia a maioria a seguir um rumo automático e inevitável. A internet que surgiu para expandir nossos horizontes de repente nos aprisionou de forma impiedosa e agora percebemos que ela deve ser encarada sempre como um complemento à experiência física. A informação, o conteúdo, tem seu tempo (que não são as 24 horas online) e nos prepara sempre para a troca com o outro.

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