Marcenaria na veia
Uma vida dedicada à arte de esculpir formas puras em madeira contada através de 70 tatuagens.
por Bruno Simões
Foi logo na adolescência que o artista e designer norte-americano John Eric Byers começou a se interessar pelo universo da marcenaria, impulsionado tanto por sua mãe que o presenteava com ferramentas antigas e livros ilustrados quanto pelo avô carpinteiro. Desse empurrão inicial veio a oportunidade única de estudar por dois anos em Rochester, Nova York, com Wendell Castle – um dos grandes mestres do design escultórico moderno e tido por muitos como o “pai do design-art”. Foram anos que definiram sua carreira, seu estilo e a intrínseca ligação com a madeira como fonte de expressão.
“Essa experiência abriu meus olhos para um mundo de possibilidades que acredito só serem possíveis nesse tipo de ambiente em particular”.
Foi nesse ambiente de intensa experimentação que quase imediatamente Byers começou a explorar maneiras de esculpir em madeira como se a mesma fosse argila, buscando formas de moldá-la e de certa maneira negar a superfície reconhecível do material. Esse estudo o levou ao domínio de uma meticulosa técnica de entalhar micro texturas orgânicas sobre a superfície rígida, como marcas de dedo comprimindo o barro. Dessa obsessão, aliada ao rigor geométrico de composição e o acabamento ebanizado, surgiu sua marca registrada como designer.
Dentro dessa linguagem bastante expressiva, ele encontrou nas formas geométricas puras o canvas perfeito para gerar um interessante jogo de contrastes. Cilindros, quadrados e retângulos são completamente revestidos por essa padronagem manual para dar vida à armários, mesas e bancos únicos que exaltam o valor do feito a mão e o resgate da linguagem brutalista ou monumental (muito antes da atual tendência repetida à exaustão e que ignora a necessária jornada pessoal do encontro das formas).
Todo esse trabalho ao longo de quase 30 anos de carreira lhe renderam vários prêmios e presença em importantes acervos, como no Museu de Artes e Design de Nova York e o Smithsonian, em Washington D.C. Tudo produzido dentro de seu charmoso ateliê em Newfield, Nova York, que nas horas vagas também serve de oficina para reparos em sua outra grande paixão, sua moto Triumph Bonneville.
Mas essa longa carreira também lhe rendeu um outro ambicioso projeto: fechar ambos os braços com 70 tatuagens, todas de ferramentas de marcenaria, numeradas uma a uma, como nos antigos manuais que ganhava de sua mãe. “Essa foi uma ideia que carreguei por muito tempo, mas guardei para quando completasse 25 anos de carreira e me sentisse então merecedor de honrar esses instrumentos e sim, ainda virão mais”.
Fotos
por divulgação