A luz do futuro
Design, tecnologia e sustentabilidade são o “novo normal” criativo para a designer Marjan van Aubel.
por Bruno Simões
Desde que se formou em 2012 no Royal College of Art, de Londres, a holandesa Marjan van Aubel busca aliar design e ciência para investigar novas maneiras de criar e produzir objetos. Seus projetos em nada mimetizam o que temos para nós como convencional ou funcional, pois seu olhar está na verdade voltado para entender justamente como revolucionar o dia a dia. Uma de suas primeiras criações foi a Well Proven Chair - a partir da descoberta de uma reação entre bio resinas e sobras de madeira que gera um resistente e leve espuma que duplica de tamanho e, além de aproveitar sobras do enorme desperdício da industria moveleira, é capaz de unir partes sem a necessidade de parafusos ou outros materiais. Não a toa, a peça se encontra hoje no acervo do Vitra Design Museum e no MoMA, em Nova York.
De lá pra cá, a designer coleciona prêmios por todo o mundo e se tornou uma das lideranças na discussão do design energético, principalmente na pesquisa de como integrar energia solar aos seus produtos, pois para ela essa é a fonte mais democrática que há e está se tornando a mais barata com grande velocidade: “O Sol é para todos, é de graça e abundante. Se olho ao redor vejo todas as superfícies como uma oportunidade para coletar energia solar”, conta.
Dessa união entre o papel social e ambiental do uso do sol como motor criativo Marjan acredita que possam surgir novas formas de se pensar design; sua funcionalidade e sua estética podem mudar radicalmente. Assim surgiu sua mais recente criação - intitulada Sunne, trata-se de uma luminária de desenho bastante simples com uma longa tira de alumínio de 85cm de comprimento e bordas arredondadas que conversa esculturalmente com o eixo do horizonte enquanto capta luz ao longo de todo o dia por meio de seus eficientes painéis e uma bateria embutida. Cada hora de luz natural absorvida gera uma hora de luz artificial.
Mas a surpresa está em seu acionamento: quando ligada, a Sunne pode reproduzir três diferentes “luzes”, cada uma trazendo o efeito cromático do sol ao longo de seu ciclo - o amanhecer; à pino; e o entardecer. É aí que a peça subverte sua função e se torna mais do que uma simples fonte de luz, na verdade o que ela faz é trazer sensações específicas ao espaço. Uma luz alaranjada numa manhã cinza de inverno para trazer ânimo, uma luz roxeada de entardecer para acalmar os nervos e trazer reflexão ou mesmo potencializar ou contrastar com a luz natural lá fora. Cada um dos efeitos pode ser escolhido por um aplicativo desenvolvido pelo próprio estúdio da designer e através do qual ainda se pode dimerizar sua intensidade e acompanhar o estoque energético.
Lançada de maneira independente pela plataforma Kickstarter (principal crowdfunding do mercado criativo) em março desse ano, a Sunne alcançou em apenas 48 horas sua meta de arrecadação e duplicou a mesma ao fim da primeira semana. Esse fenômeno pode ser um excelente sinal em seu plano para acelerar a democratização da energia: “Eu vislumbro um futuro onde todos os objetos são autônomos e podem ser carregados por energia solar.”
Fotos
por Marjan van Aubel Studio